quinta-feira, 12 de julho de 2012

O LOBO E O CORDEIRO
Estava o cordeiro a beber num córrego, quando apareceu um lobo esfaimado, de horrendo aspecto.
- Que desaforo é esse de turvar a água que venho beber? – disse o monstro arreganhando os dentes. – Espere, que vou castigar tamanha má-criação!…
O cordeirinho, trêmulo de medo, respondeu com inocência:
-  Como posso turvar a água que o senhor vai beber se ela corre do senhor para mim?
Era verdade aquilo e o lobo atrapalhou-se com a resposta. Mas não deu o rabo a torcer.
- Além disso – inventou ele – sei que você andou falando mal de mim o ano passado.
- Como poderia falar mal do senhor o ano passado, se nasci este ano?
Novamente confundido pela voz da inocência, o lobo insistiu:
- Se não foi você, foi seu irmão mais velho, o que dá no mesmo.
- Como poderia ser meu irmão mais velho, se sou filho único?
O lobo, furioso, vendo que com razões claras não vencia o pobrezinho, veio com uma razão de lobo faminto:
-  Pois se não foi seu irmão, foi seu pai ou seu avô!
E – nhoque! – sangrou-o no pescoço.
Contra a força não há argumentos.
(Monteiro Lobato, Fábulas, São Paulo, Brasiliense)
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1. O texto que você acabou de ler é:
a. (   ) uma crônica em que o autor trata de um assunto do dia-a-dia.
b. (   ) uma fábula, isto é, uma pequena história com ensinamento moral.
c. (   ) um conto de fadas.
2. Quais são os personagens do texto?
3.  O lobo e o cordeiro, sendo animais, são personagens do texto porque:
a. (   ) antigamente os animais falavam.
b. (   ) na história, eles agem, falam e raciocinam como se fossem pessoas.
c. (   ) o texto fala sobre eles.
4. O autor caracteriza o lobo como um animal:
a. (   ) carnívoro e que se alimenta de outros animais.
b. (   ) de aspecto horrível, cruel, ruim, e injusto.
c. (   ) muito faminto.
5. Como o autor carateriza o cordeiro?
6. As respostas e os argumentos que o cordeiro apresentou ao lobo:
a. (   ) eram sem fundamentos.
b. (   ) foram respostas com fundamento, válidas e justas.
c. (   ) eram respostas que o lobo não conseguia entender.
7. Observando as respostas que o cordeiro deu ao lobo, podemos perceber que ele tratou bem ao lobo. Que palavra aparece repetida nas respostas do cordeiro, provando esse bom tratamento?
8.  O lobo e o cordeiro foram ao mesmo córrego. Com que finalidade cada um se dirigiu para lá?
9. O autor quis sugerir no final da história, quando o cordeirinho foi devorado pelo lobo, que:
a. (   ) a força sempre vence a razão.
b. (   ) nem sempre quem tem razão vence uma disputa.
c. (   ) podemos explorar os mais fracos.
10. Explique, com suas palavras, a moral da história ( a última linha do texto ).
A MUTUCA E O LEÃO
Cochilava o leão à porta de sua caverna no momento em que a mutuca chegou.
- Que vens fazer aqui, miserável bichinho? Some-te, retira-te da presença do rei dos animais!
A mutuca riu-se.
- Rei? Não és rei para mim. Não conheço tua força, nem tenho medo de ti.
- Vai-te, excremento da terra!
- Vou, mas é tirar-te a prosa – disse a mutuca.
E atacou-o a ferroadas com tamanha insistência que o leão desesperou. Inutilmente espojava-se e sovava-se a si próprio com a cauda ou tabefes das patas possantes. A mutuca fugia sempre e, ora no focinho,ora na orelha, ora no lombo, fincava-lhe sem dó o adunco ferrão.
Farta, por fim, de torturar o orgulhoso rei, a mutuca basofiou:
- Conheceste a minha força? Viste como de nada vale para mim o teu prestígio de rei? Adeus. Fica-te aí a arder que eu vou contar a toda a bicharada a história do leão sovado pela mutuca.
E foi-se.
Logo adiante, porém, esbarrou numa teia, enredou-se e morreu no ferrão da aranha.
Moral da história: São mais de temer os pequenos inimigo do que os grandes.
(Monteiro Lobato. Fábulas. Brasiliense, São Paulo)
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A. Relacione a palavra da primeira coluna ao significado apresentado no texto:
1. adunco                       a. (    ) surrar, bater
2. basofiar                      b. (    ) enroscar-se, emaranhar-se
3. espojar-se                  c. (    ) fezes
4. excremento                d. (    ) estender-se; rebolar-se no chão
5. enredar-se                  e. (    ) gabar-se, vangloriar-se, orgulhar-se
6. sovar                           f. (    ) curvo, em forma de gancho
B. Quais são os personagens do texto?
C. Entre as qualidades a seguir, assinale quais as que caracterizam melhor o leão:
(   ) forte       (   ) orgulhoso     (   ) convencido     (   ) medroso     (   ) tímido
D. Entre as qualidades a seguir, assinale as que caracterizam melhor a mutuca;
(   ) corajosa   (   ) esperta   (   ) covarde     (   ) desafiante    (   ) torturadora
E. Das qualidades abaixo, quais são comuns às duas personagens?
(   ) humildade        (   ) respeito    (   ) orgulho     (   ) agressividade
F. Explique o que o autor quis dizer com: “São mais de temer os pequenos inimigos do que os grandes.”
G. Conte uma situação que você conhece e que ilustra a moral da fábula que você acabou de ler.
A TROCA
- Olha, eu sou o cara mais dorminhoco do mundo, entendeu? Vou entrando no ônibus e pego no sono. Ainda mais quando a viagem é de noite, entendeu? Quantas horas aí?
- Dez e quarenta.
- Pois é, o ônibus vai sair às onze, isto é, 23 horas, certo? Sinal de que vou puxar um ronco selado. Você é o trocador?
- Sim, senhor.
- Então, o seguinte: tome estas 1.000 pratas aqui pra me fazer um favor.
- Que favor?
- O ônibus vai é para o Rio, né?
- É.
- Dei bobeira e comprei passagem direta até o Rio. Mas acontece que tenho de descer em Juiz de Fora, pois tenho um negócio urgente pra resolver lá, amanhã de manhã.
- E daí?
- Eu quero que você me acorde quando o ônibus chegar em Juiz de Fora.
- Falou, senhor.
- Mas tem o seguinte: eu durmo feito uma pedra. E, quando sou acordado, fico uma fera. Sou desgraçado de nervoso quando me acordam . Mas aí é que você vai trabalhar: me acorde na marra, entendeu? Eu posso aprontar o maior banzé, mas você fique firme: me ponha pra fora nem que seja no tapa.
- Mas o senhor é nervoso assim?
- Claro, tou te falando, pô. Então ficamos combinados: você tá levando aí suas 1.000 pratas, entendeu? Pois é, quando chegar em Juiz de Fora, me acorde no peitoral, entendeu?, Na maior marra, entendeu? E me ponha pra fora do ônibus.
- Pelo jeito vai ser feio.
- Sei que vai. Mas não se importe. A sua obrigação é, digamos, me expulsar do ônibus. Eu fico nervoso uns dez minutos, depois volto ao normal. Posso até brigar com você, o chofer, seja lá quem for, mas me ponha pra fora, entendeu?
- Agora, entendi. Deixe comigo.
Dia seguinte, seis e pouco da manhã, o ônibus pára na rodoviária Novo Rio.
Os passageiros se apressam em descer, tirando as maletas das prateleiras, consertando a roupa, coisa e tal.
Quando o ônibus está quase vazio o trocador vê um passageiro dormindo pesadamente, numa poltrona.
Vai lá e, delicadamente, toca-lhe o ombro.
O passageiro nem se mexe.
O trocador resolve ser mais incisivo: sacode violentamente o passageiro.
- Vamos, companheiro, acorde que já chegamos.
O passageiro acorda estremunhado, limpa os olhos, coça o peito e olha para o lado de fora:
- Chegamos onde, imbecil?
- Ao Rio, pô.
- Ao Rio, desgraçado?
- Sim senhor, estamos no Rio.
O passageiro deu um pulo na cadeira e voou ao pescoço do trocador, começando um processo de estrangulamento.
- Desgraçado, fiedazunha, biltre, irresponsável, desnaturado. Eu te paguei 1.000 pratas pra você me acordar em Juiz de Fora e você me acorda no Rio? Eu te esfolo, eu te estrangulo, eu te estraçalho (…) Eu vou te…
Aí, vêm o chofer e uns poucos que ainda estavam no ônibus para exercer o sagrado direito de integrantes da nunca assaz turma do deixa-disso.
Segura daqui, pega ali, solta acolá, armou-se exemplar frege dentro do veículo.
Um passageiro, desses que não gosta de se envolver em brigas alheias, pegou sua maleta e foi saindo, olhando para trás a ver o final da altercação, quando um carreador, querendo ser amistoso, recebeu-o à porta do ônibus e comentou:
- Poxa, que passageiro nervoso, hein?- Nervoso? – perguntou, com ar irônico, o que estava descendo. – Você precisava ver, passageiro nervoso é o que desceu à força em Juiz de Fora…
(Márcio Rubens Prado. Crônicas Mineiras. São Paulo, Ática, 1984)
Após a leitura do texto e com o auxílio de um dicionário, resolva as questões a seguir.
1. Substitua cada palavra, em negrito, da frase abaixo por outra de igual sentido:
Tão logo se iniciou a altercação entre os dois dos integrantes do conjunto, o líder do grupo acordou e, mesmo estremunhado, conseguiu ser incisivo ao falar na questão disciplinar, conseguindo, assim, evitar o frege que se formava.
2. Dê continuidade ao preenchimento das lacunas com a palavra em negrito da frase anterior, em que deverá ser utilizada a terminação
–idade.  Exemplo:
a. O passageiro disse que volta ao normal depois.
b. Pode ser que volte à normalidade, mas isso não parece simples.
c. Pode não haver _________________ nisso, mas eu sou capaz de…
d. Não duvido da sua ___________________, mas essa ideia foi infeliz.
e. Ganhar mil pratas é ___________________? A grana chegou fácil.
f. Houve ___________________ até agora, mas o homem pode ficar feroz.
g. Pelas mil pratas eu enfrento a ____________________ dele. Eu sou responsável…
h. Então, use a sua _________________________, pois estamos em Juiz de Fora…
3. No texto aparecem três verbos: esfolar, estrangular e estraçalhar. Dê o significado de cada um.
4. Preencha as lacunas utilizando adequadamente uma das palavras abaixo:
Matinal, matutino/matutina, vesperal, vespertino/vespertina, noturno/noturna
  1. Durmo como uma pedra, ainda mais quando a viagem é _______________
  2. É duro levanter cedo par air à aula no turno _________________________
  3. Atenção, pessoal! Hoje, às quinze horas, haverá _____________dançante.
  4. Dormirei das oito às dezesseis horas para enfrentar o trabalho _______________
  5. Abri a janela e senti o frescor da brisa __________________ em meu rosto.
  6. Eu estudo até o meio-dia e posso trabalhar no período ______________________
5. Identifique, no texto, as palavras que possuem estes significados:
  1. fraco de inteligência, atrasado mental = ______________________
  2. vil, infame, desprezível = __________________________________
  3. desumano, cruel, insensível = ______________________________
  4. sarcástico, zombeteiro, gozador = ___________________________
6. Por que o passageiro deu gorjeta ao trocador se já tinha a passagem comprada?
7. Com as explicações do passageiro, o trocador pode antever a cena que ocorreria em Juiz de Fora e deu antecipadamente sua opinião. Qual foi?
a. (   ) Mas o senhor é nervoso assim?
b. (   ) Pelo jeito vai ser feio.
c. (   ) Agora entendi. Deixe comigo.
d. (   ) Sim, senhor, estamos no Rio.
8. O trocador tinha a obrigação de providenciar o desembarque do passageiro em Juiz de Fora? Explique.
9. Um dos passageiros revelou a causa da irritação do outro passageiro, ao final da viagem, com o seguinte comentário: “ – Você precisava ver, passageiro nervoso é o que desceu à força em Juiz de Fora…”. Esclareça o que aconteceu.
GOVERNAR
Os garotos da rua resolveram brincar de Governo, escolheram o Presidente e pediram-lhe que governasse para o bem de todos.
- Pois não – aceitou Martim. – Daqui por diante vocês farão meus exercícios escolares e eu assino. Clóvis e mais dois de vocês formarão a minha segurança. Januário será meu Ministro da Fazenda e pagará meu lanche.
- Com que dinheiro? – atalhou Januário.
- Cada um de vocês contribuirá com um cruzeiro por dia para a caixinha do Governo.
- E que é que nós lucramos com isso? – perguntaram em coro.
- Lucram a certeza de que têm um bom Presidente. Eu separo as brigas, distribuo tarefas, trato de igual para igual com os professores. Vocês obedecem, democraticamente.
- Assim não vale. O Presidente deve ser nosso servidor, ou pelo menos saber que todos somos iguais a ele. Queremos vantagens.
- Eu sou o Presidente e não posso ser igual a vocês, que são presididos. Se exigirem coisas de mim, serão multados e perderão o direito de participar da minha comitiva nas festas. Pensam que ser Presidente é moleza? Já estou sentindo como este cargo é cheio de espinhos.
Foi deposto, e dissolvida a República.
(Carlos Drummond de Andrade. Contos Plausíveis. Rio de Janeiro, Record)
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Após a leitura do texto, responda às questões:
  1. Quais são as personagens da narração?
  2. Quem é personagem principal, isto é, o protagonista da história?
  3. O que eles resolveram fazer?
  4. Por que o Presidente foi deposto?
  5. Assinale as características do presidente que o texto apresenta:
a. (   ) mandão
b. (   ) autoritário
c. (   ) democrático
d. (   ) justo
e. (   ) egoísta
6. Que outro título você daria ao texto?
7. Escreva sim ou não, de acordo com o texto:
a. (   ) As autoridades devem aproveitar-se de seus cargos para tirar benefícios próprios.
b. (   ) As autoridades devem agir para o bem de todos, sem se aproveitarem do cargo para benefícios próprios.
8. Justifique sua resposta à questão 7.
9. Se você fosse Prefeito da sua cidade, o que faria para beneficiar as pessoas que moram nela?
O BILHETE
Reginaldo tinha aversão ao jogo; nem mesmo a loteria o tentava.
Entretanto, uma tarde meteu-se num bonde do Catete, para recolher-se a casa, e no Largo do Machado, onde se apeou, pois morava naquelas imediações, foi perseguido por um garoto que à viva força lhe queria impingir um bilhete de loteria, – uma grande loteria de cem contos de réis, cuja extração estava anunciada para o dia seguinte.
Reginaldo resistiu, caminhando apressado sem dar resposta ao garoto, que o acompanahva insistindo; mas de repente lhe acudiu a ideia de que aquele maltrapilho poderia ser a fortuna disfarçada. Era preciso agarrá-la pelos cabelos! Comprou o bilhete e foi para casa onde o esperavam os tristes feijões quotidianos.
Ele bem sabia que, se dissesse a Nhanhã que havia feito essa despesa extra-orçamentária, não teria a sua aprovação; mas – que querem, – o pobre rapaz era um desses maridos submissos, que não ficam em paz com a cosnciência quando nõ contam por miúdo às caras-metades tudo quanto lhes sucede.
Ao saber da compra do bilhete, Nhanhã pôs as mãos na cabeça:
- Quando eu digo que tu não tens a menor parcela de bom-senso…! Aí está! Dez mil réis deitados fora, e tanta coisa falta nesta casa!…
E seguiu-se, durante meia hora, a relação dos objetos que poderiam ser comprados com aqueles dez mil-réis perdidos.
Depois disso, Nhanhã pediu para ver o bilhete.
Reginaldo, sem proferir uma palavra, tirou-o do bolso e entregou-lho.
- Número 345! exclamou ela. Um número tão baixo numa loteria de cinquenta mil números! Isto é o que se chama vontade de gastar dinheiro à toa! Algum dia viste, nessas grandes loterias, ser premiado um número de três algarismos?
Reginaldo confessou que nem sequer olhara o número. Como o garoto se lhe afigurou a fortuna disfarçada, ele aceitou o bilhete que lhe fora oferecido, entendendo que não devia argumentar com a fortuna.
- 345! Pois isto lá é número que se compre!
- Agora não há remédio.
- Como não há remédio? Põe o chapéu e volta imediatament ao Largo do Machado; o garoto ainda lá deve estar. Dá-lhe o bilhete e ele que te dê o dinheiro.
- Perdoa, Nhanhã, mas isso não faço eu: comprei! Nem o garoto desfaria a compra!
- Ao menos vai trocar o bilhete por outro, que tenha, pelo menos, quatro algarismos! Se tiver cinco, melhor!
- Faço-te a vontade: mas olha que sempre ouvi dizer que bilhete de loteria não se trocam…
- Faze o que eu disse e não resmungues! Tu és o rei dos caiporas, e eu tenho muita sorte!
Reginaldo não disse mais nada: pôs o chapéu, saiu de casa, foi ao Largo do Machado, e voltou com outro bilhete.
Desta vez o número tinha cinco algarismos: 38.788, Nhanhã devia ficar satisfeita.
Não ficou:
- Devias escolher um número mais variado: o 8 fica aqui três vezes… Mas, enfim, 38.788 sempre inspira mais confiança que 345…
Pois, senhores, no dia seguinte o nº 38.788 saiu branco, e o nº 345 foi premiado com a sorte grande.
Imagine-se o desespero de Nhanhã:
- Então, eu não disse que és o rei dos caiporas?
- Perdoa, Nhanhã, mas desta vez não fui o rei: tu é que foste a rainha…
- Cala-te! Se não fosses um songamonga, não me terias feito a vontade! Ter-me-ias roncado grosso!
- Ora essa!
- Um marido não se deve deixar dominar assim pela mulher!
- Olha que eu pego na palavra…
- Trocar um bilhete de loteria! Que absurdo…
- Absurdo aconselhado por ti…
- Mas tu já não estás em idade de receber conselhos!
- Bom; de hoje em diante baterei com o pé e roncarei grosso todas as vezes que me contrariares! Esta casa vai cheirar a homem!…
- A boas horas vêm esses protestos de energia!
E exclamando com os punhos cerrados e os olhos voltados para o teto: “Cem contos de réis!”, Nhanhã deixou-se cair sentada numa cadeira, e desatou a chorar.
(Artur Azevedo. Histórias Brejeiras. Rio de Janeiro, Edições de Ouro, 1966)
Use sempre um dicionário da língua portuguesa quando tiver dúvidas sobre o sigificado das palavras.
Agora, responda às questões abaixo.
A. No texto aparece o adjetivo cerrados, que não pode ser confundido com serrados. Preencha as lacunas das frases com cerrado(s, a, as) ou serrado(s, a, as) adequado.
1. Esses madeireiros fazem tanto barulho que é preciso deixar portas e janelas ______________
2. O pior não é isso. Ontem contei cem árvores __________________
3. Mesmo com os olhos _______________ vejo a destruição.
4. É mesmo. Até meu coracão parece que foi ________________
5. E quem dirá depois que aqui havia uma floresta __________________ e altaneira?
6. É isso. Floresta ________________ existirá apenas em fotografia.
B. Explique o sentido das expressões abaixo de acordo com o texto:
1 – por as mãos na cabeça
2 – saiu branco
3 – roncar grosso
4 – bater com o pé
C. No texto, a palavra conto significa determinado valor monetário. Qual o significado dessa palavra em cada uma das frases abaixo?
  1. Genival das Cruzes perdeu dez mil reais porque acreditou na conversa de dois desconhecidos que lhe aplicaram o conto do bilhete premiado.
2. Já está nas livrarias o mais recente livro de Ludovico Pinheiro, intitulado “Contos Inesquecíveis”.
D. Artur de Azevedo começa o texto informando que Reginaldo tinha aversão ao jogo. Como se explica, então, a compra do bilhete?
E. Reginaldo já esperava que Nhanhã desaprovasse o gasto de dez-mil réis, pois:
a. (   ) o bilhete era de número muito baixo.
b. (   ) o dinheiro destinava-se a outras despesas.
c. (   ) a mulher sempre reprovava os atos do marido.
d. (   ) o marido queria desafiar a mulher.
F. Quando Nhanhã mandou que trocasse o bilhete, Reginaldo esboçou certa resistência. Por quê?
G. Quando soube do resultado da extração da loteria, Nhanhã culpou o marido pelo insucesso. Na sua opinião o marido teve culpa? Justifique sua resposta.
H. Baseado no texto dê características de:
1. Nhanhã
2. Reginaldo
I. As constantes discussões do casal ocorriam, sem dúvida, por culpa de ambos os cônjuges. Na sua opinião, qual deles é mais culpado? Justique com argumentos coerentes.
A coruja e a águia
Coruja e águia, depois de muita briga, resolveram fazer as pazes.
- Basta de guerra – disse a coruja. – O mundo é tão grande, e tolice maior que o mundo é andarmos a comer os fihotes uma da outra.
- Perfeitamente – respondeu a águia. – Também eu não quero outra coisa.
- Nessa caso combinemos isto: de ora em diante não comerás nunca os meus filhotes.
- Muito bem. Mas como posso distinguir os teus filhotes?
- Coisa fácil. Sempre que encontrares uns borrachos lindos, bem feitinhos de corpo, alegres, cheios de uma graça especial que não existe em filhote de nenhuma outra ave, já sabes, são os meus.
- Está feito! – concluiu a águia.
Dias depois, andando à caça, a águia encontrou um ninho com três monstregos dentro, que piavam de bico muito aberto.
- Horríveis bichos! – disse ela. – Vê-se logo que não são os filhos da coruja.
E comeu-os.
Mas eram os filhos da coruja. Ao regressar à toca, a triste mãe chorou amargamente o desastre e foi justar contas com a rainha das aves.
- Quê? – disse esta, admirada. Eram teus filhos aqueles monstrenguinhos? Pois, olha, não se pareciam nada com o retrato que deles me fizeste…
Moral da história: quem ama o feio, bonito lhe parece.
(Monteiro Lobato. FÁBULAS. 50 edição, Editora Brasiliense, São Paulo, 1994)
Após a leitura do texto, responda às questões:
  1. Quem são os personagens dessa fábula?
  2. A fábula se divide em duas parte. Quais são elas?
  3. Como a coruja descreveu seus filhotes?
  4. Por que a águia não reconheceu os filhotes da coruja?
  5. Segundo a moral da história, há uma diferença no modo como as pessoas vêem umas às outras. Explique porquê.
HISTÓRIA DE BEM-TE-VI
(Cecília Meireles)
Com estas florestas de arrranha-céus que vão crescendo, muita gente pensa que passarinho é coisa de jardim zoológico; e outros até acham que seja apenas antiguidade de museu. Certamente chegaremos lá; mas por enquanto ainda existem bairros afortunados onde haja uma casa, casa que tenha um quintal que tenha uma árvore.  Bom será que essa árvore seja a mangueira. Pois nesse vasto palácio verde podem morar muitos passarinhos.
Os velhos cronistas desta terra encantaram-se com canindés e araras, tuins e sabiás, maracanãs e “querejuás todos azuis de cor finíssima…”. Nós esquecemos tudo: quando um poeta fala num pássaro, o leitor pensa que é literatura…
Mas há um passarinho chamado bem-te-vi. Creio que ele está para acabar.
E é pena, pois com esse nome que tem – e que é a sua própria voz – devia estar em todas as repartições e outros lugares, numa elegante gaiola, para no momento oportuno anunciar a sua presença. Seria um sobressalto providencial e sob forma tão inocente e agradável que ninguém se aborrecia.
O que me leva a crer no desaparecimento do bem-te-vi são as mudanças que começo a observar na sua voz. O ano passado, aqui nas mangueiras dos meus simpáticos vizinhos, apareceu um bem-te-vi caprichoso, muito moderno, que se recusava a articular as três sílabas tradicionais do seu nome, limitando-se a gritar: “…te-vi! …te-vi!”, com a maior irreverência gramatical. Como dizem que as últimas gerações andam muito rebeldes e novidadeiras, achei natural que também os passarinhos estivessem contagiados pelo novo estilo humano.
Logo a seguir, o mesmo passarinho, ou seu filho ou seu irmão – como posso saber, com a folhagem cerrada da mangueira? – animou-se a uma audácia maior.
Não quis saber das duas sílabas, e começou a gritar daqui, dali, invisível e brincalhão: “…Vi! …Vi! …Vi!”, o que me pareceu divertido, nesta era do twist.
O tempo passou, o bem-te-vi deve ter viajado, talvez seja cosmonauta, talvez tenha voado com o seu team de futebol – que se há de pensar de bem-te-vis assim progressistas, que rompem com o canto da família e mudam os lemas dos seus brasões? Talvez tenha sido atacado por esses crioulos fortes que agora saem do mato de repente e disparam sem razão nenhuma no primeiro indivíduo que encontram.
Mas hoje ouvi um bem-te-vi cantar. E cantava asim; “Bem-bem-bem-bem… te-vi!” Pensei: ‘É uma nova escola poética que se eleva da mangueira!…” Depois, o passarinho mudou. E fez: “Bem-te-te-te … vi!” Tornei a refletir: “Deve estar estudando a sua cartilha… Estará soletrando…”. E o passarinho: “Bem-bem-bem … te-te-te … vi-vi-vi!”
Os ornitólogos devem  saber se isso é caso comum ou raro. Eu jamais tinha ouvido uma coisa assim! Mas as crianças, que sabem mais do que eu, e vão diretas aos assuntos, ouviram, pensaram e disseram: “Que engraçado! Um bem-te-vi gago!”
(É: talvez não seja mesmo exotismo, mas apenas gagueira…!)
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Vocabulário:
Ornitólogo – aquele que estuda as aves
Querejuá – nome de pássaro de plumas de cores vivas e variadas, comum na região litorânea da Bahia e Rio de Janeiro. Também conhecido como cotinga, catingá, crejoá, quereiná e quiruá.
Twist – dança de origem americana, da década de 1960.
Team – palavra da língua inglesa traduzida em português como “time”, isto é, grupo esportivo.
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Após a leitura do texto, responda às questões abaixo:
A. Marque a alternativa que substitui a expressão que está em destaque nas frases:
1. Muita gente acha que passarinho seja apenas antiguidade de museu.
a.(   ) coisa que não existe mais             b.(   ) coisa inútil
c.(   ) coisa muita antiga                          d.(   ) coisa já esquecida
2. O canto do bem-te-vi seria um sobressalto providencial em todas as repartições.
a.(   ) um grande susto                            b.(   ) uma surpresa agradável
c.(   ) um aviso atrasado                         d.(   ) um acontecimento inesperado e agradável
3. Um bem-te-vi caprichoso se recusava articular seu nome completo.
a.(   ) dizer        b.(   ) pronunciar      c.(   ) cantar         d.(   ) explicar
4. O passarinho limita-se a gritar: “…te-vi!…”
a.(   ) começa a           b.(   ) contenta-se com             c.(   ) excede-se em           d.(   ) restringe-se a
5. O bem-te-vi gritava com a maior irreverência grammatical.
a.(   ) desrespeito       b.(   ) prudência        c.(   ) correção       d.(   ) despreocupação
6. O bem-te-vi devia estar em todas as repartições para no momento oportuno anunciar sua presença.
a.(   ) marcado       b.(   ) favorável      c.(   ) impróprio       d.(   ) previsto
7. Como dizem que as últimas gerações andam muito rebeldes e novidadeiras achei natural seu comportamento.
a.(   ) revoltadas     b.(   ) precipitadas      c.(   ) descuidadas     d.(   ) impacientes
B. Assinale a alternativa adequada para completar as frases seguintes, de acordo com o texto:
1. No texto, o fato é narrado sobretudo com:
a.(   ) ironia     b.(   ) tristeza      c.(   ) bom humor       d.(   ) saudosismo
2. No primeiro parágrafo do texto, diz-se que a relação entre o homem e a natureza será:
a.(   ) cada vez menos frequente               b.(   ) sempre importante
c.(   ) um privilégio para poucos               d.(   ) coisa esquecida e desnecessária
3. Em repartições públicas,  canto do bem-te-vi seria uma agradável surpresa porque:
a.(   ) alegraria os funcionários no trabalho
b.(   ) lembraria a natureza num local caracteristicamente urbano
c.(   ) distrairia funcionários e visitantes
d.(   ) despertaria a curiosidade das pessoas da cidade
4. O fato interessante que o texto mostra a respeito do passarinho é:
a.(   ) seu aparecimento no quintal dos vizinhos
b.(   ) sua viagem com um time de futebol
c.(   ) a mudança observada no seu canto
d.(   ) a mudança nas cores de suas penas
5. O canto “…te-vi! …te-vi!…” seria uma irreverência gramatical porque:
a.(   ) o verbo deve concordar com o sujeito
b.(   ) não se deve começar uma frase com pronome pessoal oblique
c.(   ) deve-se pronunciar corretamente as palavras
d.(   ) deve-se iniciar frases sempre com maiúsculas
C. Assinale mais de uma alterntiva de acordo com o texto:
6. O texto sugere várias causas para o comportamento do bem-te-vi, entre elas:
a.(   ) o bem-te-vi estava cansado
b.(   ) estava soletrando sua cartilha
c.(   ) estava brincando
d.(   ) o passarinho era gago
e.(   ) estava fazendo poesia nova
f.(   ) era um passarinho preguiçoso
D. Para você pensar e tirar suas conclusões.
1. O texto fala sobre a possiblidade de haver passarinhos nas repartiçoes públicas. É possível isso acontecer atualmente? (   ) sim    (   ) não       Por quê?
ESTADO DE COMA
Quando entrou, a mulher parecia uma louca.
- Estou nas últimas.
- Calma – solicitou Dr. Novaes.
A mulher não obedeceu ao pedido. Num histerismo preocupante começou a despir-se, mostrando feridas inexistentes e mazelas prováveis. Falava muito e muito depressa. Dr. Novaes não conseguia acompanhar os sintomas que ela expunha.
- Isto, doutor, não pode ser câncer?
- Bem…
- Veja como está arroxeado. Eu já li muito sobre isso. Esta mancha escura não pode ser um melanoma? Eu tenho pavor de câncer, doutor. E o meu pulmão? Examine.
Tirou a blusa e o sutiã para que Dr. Novaes encostasse o ouvido na suas costas, sem que nada o obstasse.
- Seu pulmão – começou o doutor…
- Se eu ainda tiver pulmão. E as palpitações, doutor, são constantes. Disritmia. Tem hora que o coração parece ter parado. Fico fria, sinto um torpor no corpo, o braço dormente. Braço esquerdo. Esquerdo, frisava, de olho rútilo. – Não é coisa de coração? Quais são os sintomas de enfarte?
- O enfarte…
- E o fígado? Bata no meu fígado.
O doutor obedeceu por obedecer. Ressoou um “tum-tum” surdo.
- Se eu já não tiver com hepatite, ando por perto.
- A senhora está nervosa.
- E deveria estar calma? E os rins, que não funcionam direito? E nem falo da cistite, que não me dá um dia de sossego.
Tirou a saia para mostrar melhor as varizes que nasciam nos tornozelos e iam em frente. O doutor, muito paciente, fazia o que ela mandava.
- Aperte aqui.
Ele apertava.
- Veja aqui.
Ele via.
- Empurre aqui.
Ele empurrava.
- Ausculte, pressione, experimente, observe.
Ele auscultava, pressionava, experimentava, observava, obedecia com muita tranquilidade, uma calma que não era muito do agrado da mulher que, neste momento, não usava no corpo nada além dos sapatos que acabava de tirar.
- Já viu meu pé?
- Estou vendo.
- Pé chato. Isso pode ser a causa do cansaço. Mas eu uso sapato ortopédico, o pé chato nada tem a ver com o cansaço, tem?
- Não, não tem.
- No entanto, parece que não há um palmo cúbico de ar para que eu respire. Veja como suo nas mãos.
Ele viu que ela suava realmente.
E tinha dores no estômago pela manhã, o intestino não funcionava a contento, a vesícula devia estar preguiçosa, o pâncreas ficava como se tivesse comido brasa, a urina era escura um dia, avermelhada no outro.
Dr. Novaes não se abalou em nenhum instante. A mulher, inteiramente desnuda, deliberadamente deitou-se na mesa para um exame mais detalhado. Dr. Novaes fez.
- Pode se vestir.
- Como? Sem que o senhor examine o baço?
Ele, com um dedo sobre o baço, bateu várias vezes nele com o rígido médio.
- Vista-se agora.
Ela se disse impossibilitada. Sentia o tal sintoma de prostração de que tanto falara. Viu? Ainda bem que no consultório lhe tinha dado, para que o Dr. Novaes não pensasse que se tratava de hipocondria ou coisa semelhante.
Foi-lhe dado um pouco de água mexida com uma colher. Nada havia além da água no copo, mas o mexer da colher fez com que, ao beber a água pura, ela chegasse a sentir um gosto muito ruim.
- O que foi que o senhor me deu para beber?
- Nada – disse o Dr. Novaes.
- Eu preciso saber  o nome deste remédio. Em dois minutos me deixou outra. Estou reanimada, recuperada.
- Vista-se.
Ela começou a se vestir.  Vestiu-se sem parar de falar de doença. Dores de cabeça ao amanhecer, uma ponta de febre no começo da noite, insônia progressiva – Mandrix já fazia efeito semelhante à Cibalena – perda de apetite.
- Como isso, parece que comi um boi.
E a memória, não raro, lhe faltava. Seria amnésia? Essa doença existe mesmo, ou é coisa de filme? E os olhos sempre vermelhos. Há uma mancha num deles, vê? O olho direito. Não seria um carcinoma? Os seios doídos. Às vezes, não suportava o sutiã.
- A senhora está nervosa demais.
- Se fosse somente o sistema nervoso, era ótimo. Eu tomava uns sedativos, uns tranquilizantes, pronto. O estado geral é que é o drama. Devo me hospitalizar? Diga, Doutor. Preciso ser operada? É caso de cirurgia, ou…? O que o senhor disser eu faço.
- Então faça o seguinte – disse o Dr. Novaes. – Procure um médico.
- Hem?
- Eu sou economista. O Dr. Drúlio, que tinha consultório aqui, mudou-se para a Rua Sorocaba.
Daí, ela apressou-se a vestir a roupa.
(CHICO ANÍSIO. Feijoada no Copa. Editora Rocco, 1976, Rio de Janeiro)
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1. Pesquise e informe os órgãos do corpo humano que são diretamente atacados por estas doenças:
a) hepatite                         b) pneumonia                     c) cistite                   d) rinite
2. O que são sintomas?
3. Identifique e transcreva as palavras do texto que tenham estes significados:
a) dilatação permanente das veias
b) abatimento, enfraquecimento, debilidade
c) estado mórbido que se manifesta pelo aumento da temperatura anormal do corpo
d) diminuição ou perda da memória por motivo orgânico ou emocional
4. Já sabemos que a mulher esteve no escritório de um economista e não num consultório médico. Qual foi o motivo do engano?
a. (   ) Ainda existia a placa do Dr. Drúlio na porta.
b. (   ) O Dr. Drúlio e o Dr. Novaes eram muito parecidos.
c. (   ) A mulher estava habituada a ir aquele local.
d. (   ) A mulher pensou que Dr. Novaes fosse médico.
5. Que doença foi a primeira preocupação da mulher?
6. Quando a mulher perguntou quais os sintomas do enfarte, Dr. Novaes esboçou uma resposta, mas foi interrompido. Na sua opinião, como ele completaria a frase?
7. Mesmo não sendo médico, Dr. Novaes efetuou alguns exames na mulher. Na sua opinião por que ele agiu assim?
8. A mulher já havia feito outras consultas sem que os médicos encontrassem qualquer doença. Ela, entretanto, não concordava com seus diagnósticos porque não se considerava portadora de:
a. (   ) tuberculose        b. (   ) hepatite         c. (   ) hipocondria         d. (   ) disritmia
9. Quando o Dr. Novaes lhe deu água, houve uma súbita melhora no estado nervoso em que a mulher se encontrava. Por quê?
10. Nesse texto, o autor quis nos divertir com uma situação incômoda para os personagens. Entretanto, é possível extrair uma lição desse episódio. Qual seria?
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MODOS DE DIZER
(Mário  Bachelet. Antologia Portuguesa. FTD, São Paulo, 1965)
Uma vez um rei sonhou que todos os seus dentes lhe foram caindo da boca, um após outro, até não  ficar nenhum. Era no tempo em que havia magos e adivinhos. O rei mandou chamar um deles, referiu-lhe o sonho e pediu-lhe que o decifrasse. O adivinho levou a mão à testa, pensou, pensou, consultou a sua ciência e disse:
– Saiba Vossa Majestade que a significação do seu sonho é a seguinte: está para lhe suceder uma grande infelicidade. Todos os seus parentes, a rainha, os seus filhos, netos, irmãos, todos vão morrer sem ficar um só ante os olhos de Vossa Majestade.
O rei entrou em cólera, ficou muito irritado e, chamando os guardas do palácio, mandou decepar a cabeça do adivinho que lhe profetizara coisas tão tristes.
Estava o rei muito acabrunhado com o vaticínio, quando se aproximou um cortesão e lhe aconselhou que consultasse outro adivinho, porque a interpretação do primeiro podia estar errada e não devia Sua Majestade se afligir em vão.
O rei adotou o conselho, mandou chamar outro mago e lhe narrou o mesmo sonho, pedindo que o decifrasse.
O adivinho levou a mão à testa, pensou, pensou, consultou a sua ciência e disse:
– Saiba Vossa Majestade que o seu sonho significa o seguinte: Vossa Majestade terá muitos anos de vida. Nenhum dos seus parentes lhe sobreviverá. Nem mesmo o mais moço e mais forte deles terá o desgosto de chorar a perda de Vossa Majestade.
O rei, muito satisfeito, mandou encher o adivinho de presentes, deu-lhe muitas moedas de ouro, muitos diamantes, roupas de seda bordadas e um palácio para morar, nomeando-o adivinho oficial do reino.
No entanto, o segundo mago, que recebeu tais prêmios, disse a mesma coisa que o primeiro, que foi degolado. A única diferença foi a linguagem que ele empregou. Esta fez que ele recebesse prêmio em vez de castigo.
Interpretação do texto.
1. Cada um dos magos, antes de expor ao rei o significado do sonho, levou a mão à testa para, com este gesto, indicar…
a. (   ) medo da reação do rei
b. (   ) concentração de pensamento
c. (   ) respeito diante do rei
d. (   ) indecisão sobre o que falar
2. O rei ficou muito triste com o que o primeiro mago lhe dissera porque…
a. (   ) soube que logo perderia todos os seus familiares
b. (   ) soube que não viveria muito tempo
c. (   ) soube que ficaria sem o seu trono
3. Um cortesão deu um conselho ao rei, mas não sabemos com que palavras ele realmente se expressou. Coloque-se no lugar do cortesão e redija a frase que ele deve ter dito ao rei.
4. O segundo adivinho não provocou a irritação do rei. Por quê?
a. (   ) Porque ele deu a interpretação errada do sonho
b. (   ) Porque ele ficou calado diante do rei.
c. (   ) Porque ele apresentou o significado do sonho de modo agradável
5. A interpretação do segundo adivinho causou no rei a sensação de…
a.(   ) tristeza
b. (   ) admiração
c. (   ) satisfação
d. (   ) ira
6. A interpretação foi a mesma dada pelos dois magos. Qual a diferença existente entre uma e outra que levou o rei a ter reações diferentes?
a. (   ) O primeiro mago enfatizou o lado ruim do sonho (a morte de todos os familiares do rei); o segundo mago enfatizou o lado bom do sonho (o rei iria viver muito).
b. (   )  O primeiro mago usou de palavras grosseiras para dar a explicação do sonho; o segundo mago ficou calado diante do rei.
7. O texto de Mário Bachelet ensina que…
a. (   ) é melhor ficar calado para não sofrer as consequências.
b. (   ) não se deve dizer a verdade para não irritar os poderosos.
c. (   ) para tudo há dois modos de dizer a mesma coisa: o agradável e o desagradável.
E AGORA, JOSÉ?
( Carlos Drummond de Andrade)
E agora, José?
A festa acabou,
A luz apagou,
O povo sumiu
A noite esfriou,
E agora, José?
E agora, você?
Você que é sem nome,
Que zomba dos outros
Você que faz versos
Que ama, protesta?
II
E agora, José?
Está sem mulher
Está sem discurso,
está sem carinho,
já não pode beber,
já não pode fumar,
cuspir já não pode,
a noite esfriou,
o dia não veio,
o bonde não veio,
o riso não veio,
não veio a utopia
e tudo acabou
e tudo fugiu
e tudo mofou,
e agora, José?
III
E agora, José?
Sua doce palavra,
Seu instante de febre,
Sua gula e jejum,
Sua biblioteca,
Sua lavra de ouro,
Seu terno de vidro,
Sua incoerência,
Seu ódio – e agora?
Com a chave na mão
Quer abrir a porta,
Não existe porta;
Quer morrer no mar,
Mas o mar secou;
Quer ir para Minas,
Minas não há mais.
IV
José, e agora?
Se você gritasse,
Se você gemesse,
Se você tocasse
A valsa vienense,
Se você dormisse
Se você morresse…
Mas você não morre,
Você é duro, José!
Sozinho no escuro
Qual bicho-do-mato
Sem teogonia,
Sem parede nua
Para se encostar
Sem cavalo preto
Que fuja a galope,
Você marcha, José!
José, para onde?
1. Das possibilidades sugeridas pelo poeta para que José mudasse seu destino, a mais extremada está contida no verso:
a. (   ) “se você tocasse a valsa vienense”
b. (   ) “se você morresse”
c. (   ) “José, para onde?”
d. (   ) “quer ir para Minas”
2. Para o poeta, José só não é:
a. (   ) alguém realizado e atuante
b. (   ) um solitário
c. (   ) um joão-ninguém frustrado
d. (   ) alguém sem objetivo e desesperançado
3. José, de acordo com o texto, é um abandonado. Essa ideia está traduzida em que estrofe?
4. “A noite esfriou” é um verso que é repetido. Com isso, o poeta deseja:
a. (   ) deixar bem claro que José foi abandonado porque fazia frio.
b. (   ) traduzir a ideia de que José sentiu muito frio porque anoiteceu.
c. (   ) exprimir que, após o término da festa, a  temperatura caíra.
d. (   ) intensificar o sentimento de abandono, tornando-se um sofrimento quase físico.
5. Qual o verso que exprime concisamente que José é ninguém?
6. Qual é o verso que expressa essencialmente a ideia de um José sem rumo?
7. Assinale a afirmativa falsa a respeito do texto:
a. (   ) José é alguém bem individualizado e a ele o poeta se dirige com afetividade.
b. (   ) O ritmo dos sete primeiros versos da 5a. estrofe é dançante.
c. (   ) “Sem teogonia” significa: sem deuses, sem credo, sem religião.
8. Neste poema, o autor retrata uma situação social. Qual é?
MÃES PARA UM MUNDO NOVO
Vivemos sonhando com o mundo novo: o mundo do Bom Pastor, onde  a violência  ceda o lugar à paz, à justiça, à fraternidade. Para que o sonho se realize, o Bom Pastor é a última esperança. A penúltima são as mães, depositárias do amor infinito de Deus.
Quando vejo a violência praticada nas ruas contra pessoas indefesas, eu digo: “Será que não têm mãe, esses violentos? Antes de puxar o gatilho ou arremessar a faca, por que não pensam na aflição das mães dos violentados?”
E quando vejo a violência legalizada dos homens do governo a impor cargas pesadas às costas do pobre, do trabalhador, do assalariado, eu digo: “Será que não têm mãe, esses senhores? Ao aprontarem pacotes econômicos tão desumanos, por que não pensam em como ficariam as senhoras mães deles, se elas não tivessem pão para dar a seus filho?”
Hoje, antes de fazermos um discurso patético e comovente em homenagem às nossas mães, preferimos lançar a elas um grande desafio: o que é que elas podem fazer para deter a escalada da violência?
Nossos jovens estão se metendo num caminho de violência. Mas nós, os adultos, não temos nem um pouco de razão para censurá-los, uma vez que somos mais violentos do que eles. Porque, enquanto eles se agitam e gritam nas praças de punho fechado, nós pais, homens de governo e homens de Igreja, baixamos leis e decretos insuportáveis. Enquanto eles quebram vidraças e incendeiam carros, nós fazemos massacre dos valores cristãos, da fé e dos mandamentos.
Debaixo da cruz, estava a Mãe para receber o último suspiro do Inocente violentado. Com sua coragem e seu perdão, com suas lágrimas de amor, as mães dos violentos e dos violentados de hoje conseguirão derrotar a violência.
(Pe. Virgílio, SSP, Jornal O Domingo. São Paulo, Ed. Pia Sociedade de São Paulo, ano LII, n° 24, 13/05/1984)
_______________________________________________________________
1. No texto, encontramos as palavras violentos e violentados. Que diferença de significado há entre elas?
2. Preencha adequadamente as lacunas do texto com as palavras abaixo, fazendo as adaptações necessárias à frase.
Aflição – desumanos – discurso – indefesas – justiça – lançou – massacres – patético – violência
O conferencista _________ seu olhar demoradamente pela plateia. Depois, demonstrando certa ____________, iniciou seu ____________. Falou da _______ que se pratica contra pessoas____________. Finalizou em tom _________, acusando de __________ todos esses ____________ que abalam a ___________
3. Localize, no texto, e transcreva as palavras que tenham os significados abaixo:
a)    amor ao próximo, convivência como irmãos __________________
b)    lançar com força para longe _______________________
c)    remissão da pena, indulto _________________________
4. Dá-se o nome de pacote a um pequeno embrulho. No texto, porém, pacote foi empregado com outro significado. Qual?
5. O texto informa que vivemos sonhando com um mundo novo. Como deveria ser esse mundo na opinião ao autor?
6. Como a violência tomou dimensões imensuráveis, o autor aponta duas esperanças para que tenhamos um mundo novo. Quais são?
7. O autor faz referências a duas formas diferentes de violência. Uma é praticada por bandidos, malfeitores, criminosos. Qual é a outra?
8. Quando o autor diz que os adultos não podem censurar os jovens, pretende mostrar que:
a. (   ) a violência é consequência da falta de amor das mães pelos filhos.
b. (   ) cabe à juventude, a culpa pela escalada abusiva da violência.
c. (   ) os atos da juventude são consequência dos exemplos dos adultos.
d. (   ) o governo é o verdadeiro culpado pela escalada da violência.
9. O autor faz uma pergunta: o que as mães podem fazer para deter a violência? E sugere uma solução. Qual é?
10. Na sua opinião, a solução dada pelo autor é suficiente para deter a escalada da violência em nossos dias?
(    ) sim          (     ) não          Por quê? ____________
TEXTO PARA INTERPRETAÇÃO 30  (Nível Médio)  -   MARIA, MARIA
(Milton Nascimento e Fernando Brant)
Maria, Maria
É um dom, uma certa magia
Uma força que nos alerta,
Uma mulher que merece viver e amar
Como outra qualquer do planeta.
Maria, Maria
É o som, é a cor, é o suor,
É a dose mais forte e lenta
De uma gente que ri quando deve chorar
E não vive, apenas aguenta.
Mas é preciso ter força,
É preciso ter raça,
É preciso ter gana sempre,
Quem traz no corpo a marca,
Maria, Maria
Mistura a dor e a alegria.
Mas é preciso ter manha,
É preciso ter graça,
É preciso ter sonho sempre.
Quem traz na pele essa marca
Possui a estranha mania
De ter fé na vida.
________________________________________________
1. Identifique as características emocionais ou psicológicas da Maria descrita no texto.
2. A que classe social pertence a Maria descrita no texto? Transcreva o trecho que comprova sua resposta.
3. Os trechos: “Quem traz no corpo a marca / … / Mistura a dor e a alegria” e “Quem traz na pele essa marca / possui a estranha mania / de ter fé na vida” indicam que a Maria é:
a. (   ) portadora de deficiência física
b. (   ) é negra e pobre
c. (   ) branca e rica
4. Baseando-se no conteúdo do texto, explique o que afirmam esses versos: “Possui a estranha mania / de ter fé na vida”.
5. A metáfora é uma figura de linguagem muito usada na linguagem poética. Identifique e transcreva as frases do texto que apresentam essa figura.